Pular para o conteúdo principal

Controle da inteligência artificial: a sociedade precisa participar de discussões

Governo abre consulta pública para discutir regras para o desenvolvimento da IA. Imagem: Pixabay
Governo abre consulta pública para discutir regras para o desenvolvimento da IA. Imagem: Pixabay

Carlos Teixeira
Editor I Radar do Futuro

Iniciativa bem intencionada do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o lançamento de uma “Consulta Pública da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial” precisa ter a sua discussão levada para além dos mais diretos interessados pelo tema. A inteligência artificial não é algo que envolve apenas tecnologia. O que significa que outras áreas e movimentos sociais devem se engajar nas análises sobre impactos, inclusive oportunidades e ameaças, do salto de desenvolvimento das tecnologias.

A pergunta central a se fazer é: Quem define a ética da inteligência artificial? Pelo menos em tese, o objetivo reconhecido pelo órgão de governo com apoio da sociedade tecnológica é submeter um conjunto de questões a contribuições de todos os cidadãos. Eles serão responsáveis pelo direcionamento de uma política que potencialize os benefícios da IA no Brasil e a solução de problemas concretos. Ao justificar a iniciativa, o ministério salienta que, entre as áreas que podem se beneficiar da IA no Brasil, estão destacadas na proposta o aumento da competitividade e produtividade, a prestação de serviços públicos, a qualidade de vida da população e a redução das desigualdades sociais.

O documento-base propõe seis eixos verticais sobre os quais a IA pode atuar, criando novos padrões de impactos. Educação e capacitação; Força de trabalho; Pesquisa, desenvolvimento, inovação e empreendedorismo; Aplicação pelo governo; Aplicação nos setores produtivos; e Segurança pública. Há, também, o reconhecimento de três eixos transversais: Legislação, regulação e uso ético; Aspectos internacionais; Governança de IA.

Consultas

Ao final de cada um dos itens definidos pelo governo, o cidadão pode opinar em perguntas abertas e inclusive sugerir tópicos que não estejam presentes na proposta. Em entrevistas de apresentação da iniciativa, a diretora de Serviços de Telecomunicações do MCTIC, Miriam Wimmer, reconhece que a inteligência artificial é uma tecnologia que trará profundas mudanças na economia, governo e sociedade. Dessa forma, a consulta abre espaço para uma discussão que já acontece em outros países e organismos internacionais, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

“No aspecto jurídico, ético, muitas questões são levantadas quanto ao papel que esses sistemas autônomos vão ter na sociedade, considerando a capacidade de tomar decisões com base em inferências que nem sempre são explicáveis. A gente não colocou em consulta um documento fechado. Estamos em um processo de construção e nossa ideia é criar um ambiente para ouvir os interessados e potenciais impactados pela tecnologia”, aponta.

A consulta pública se soma a outra iniciativa em inteligência artificial que deve ser lançada em breve pela Secretaria de Tecnologias Aplicadas do MCTIC: a criação de oito Centros de Pesquisa Aplicada em IA. A ideia é incentivar a união de Instituições de Ciência e Tecnologia, universidades e empresas na criação de soluções para temas prioritários, como agricultura, indústria, cidades inteligentes e saúde.

“Dentro da consulta, um aspecto fundamental são as políticas de pesquisa, desenvolvimento e inovação. No ministério há o esforço de desenvolver Centros de Pesquisa Aplicada em Inteligência Artificial. São iniciativas que conversam entre si. Uma é a aplicação concreta para o desenvolvimento da IA no Brasil, a outra é uma discussão ampla de políticas para lidar com o tema”, explica.

Participação essencial

A existência de políticas é algo que deve preocupar, inclusive, e especialmente, cientistas sociais e políticos. E grupos como os de mulheres. Em artigo publicado site da Forbes, e reproduzido pelo site do Fórum Econômico Mundial, a articulista, Patricia Barnes, advogada, autora e consultora sobre discriminação no emprego, atesta o receio de possíveis impactos da IA sobre o mercado de trabalho, especialmente das mulheres. “Uma rede global de mulheres diz que o maior perigo para as mulheres em relação ao desenvolvimento da Inteligência Artificial nos próximos anos é o fato de as mulheres representarem apenas 22% de todos os profissionais de tecnologia no mundo.

Em resumo, a sociedade deve se apropriar do tema. Retirar a exclusividade da comunidade da tecnologia e dos empresários, setores interessados em desenvolver novos negócios, a incumbência do que seja positivo ou negativo para a sociedade. É necessário entender que a ética corporativa é diferente da ética da sociedade. Afinal, em algum momento o mercado de trabalho vai se deparar com dilemas em que a possibilidade de substituir um trabalhador por um sistema inteligente não deve ser colocada acima da prioridade de assegurar oportunidades de geração de renda.

Documento base

O documento-base da Consulta Pública da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial também pode ser conferido em: https://issuu.com/mctic/docs/estrategia-inteligencia-artificial.

Contribua com a consulta pública da Estratégia Brasileira de IA aqui http://participa.br/profile/estrategia-brasileira-de-inteligencia-artificial

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como ser um jornalista na internet

Para ser um jornalista online, você precisa conhecer quatro "coisas". Um designer. Um programador de sistemas. Uma empresa capaz de valorizar profissionais capacitados e de dar bons empregos para vocês três. E o mais importante: saber muito sobre comunicação e marketing e um pouco sobre design e tecnologia. Esta deve - ou deveria - ser a resposta padrão para pergunta freqüente feita por jornalistas, novos e antigos, interessados em atuar no novo mercado criado pela internet. Muitos deles imaginam que as portas digitais serão abertas por algum curso sobre as inúmeras tecnologias desenvolvidas para o desenho e gerenciamento de sites. "Tenho muita vontade de atuar em jornalismo na internet, e estou fazendo um curso de Dreamweaver", anunciam os abnegados candidatos a emprego minimamente digno nesta praia de muitas ondas nem sempre boas para surfar. Outros, constrangidos, contam em segredo: eu queria muito trabalhar na internet, mas não sei nada de informática. Menos imp

Quem matou o jornalista

Zélia Leal Adghirni A mídia não reflete a opinião pública. A sociedade pensa uma coisa e a mídia fala outra. E o pior: muitas vezes seleciona e reproduz só aquilo que coincide com os interesses políticos e econômicos do momento. O alerta foi dado pelo professor e pesquisador americano da Universidade do Colorado, Andrew Calabrese, durante o 29º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), que reuniu, na semana passada, mais de três mil professores, alunos e pesquisadores em comunicação na Universidade de Brasília em torno do tema Estado e Comunicação. Calabrese fez graves criticas à mídia americana que, segundo ele, exagerou no patriotismo em detrimento da informação após os atentados de 11 de setembro de 2001. De acordo com o professor, o discurso da Casa Branca e da grande mídia passou a ser quase unificado. A mídia quis fazer uma demonstração de patriotismo e solidariedade e acabou abraçando a decisão do governo de invadir o Iraque sem o respaldo da opinião da opinião

Jornalistas serão substituídos por robôs?

Os jornalistas podem - e vão - ser substituídos por robôs?