Pular para o conteúdo principal

Para astrólogo, geminiano, para a ciência, deficiente de atenção

Aos cinquenta e tantos anos, finalmente descobri que tenho déficit de atenção. Em outros tempos, jamais tive acesso ao diagnóstico, apesar de todos os sinais do problema, mesmo porque a expressão é recente, pelo menos no vocabulário da população leiga em questões da psicologia. Na verdade, cresci sob o mito das características comportamentais de um nascido sob a regência de gêmeos. Estimulado pelas leituras de livros e dos meios de comunicação tradicionais, fui sempre comparado a um representante típico do signo. Afinal, sabemos e temos muitas informações sobre características gerais do zodiáco, mas ficamos alheios às descobertas das ciências do comportamento. Os astrólogos fazem, pela via indireta, a melhor descrição de um sujeito que carrega a deficiência de atenção. Hoje, percebo alguma contribuição do zodiáco na compreensão sobre de nuances do comportamento.

Os astrólogos preconizam que os geminianos, representantes do terceiro signo do zodíaco, estão associados ao desenvolvimento do intelecto e da comunicação. Os nascidos entre 21 de maio e 21 de junho têm pensamentos e a curiosidade são intensos, reflexos da inteligência elevada. Ágeis no raciocínio, argumentam com agitação ainda mais entusiasta. Ter uma platéia de ouvintes é um dos seus grandes prazeres. Movidos pela curiosidade infindável, a mutalibidade é tanta que se tornam irritadiços e entediados se não têm coisas novas em que pensar a cada semana. A valorização do intelecto acima do instinto, a racionalidade e desapego aos sentimentos mais fúteis da humanidade, descritos no zodíaco, eram um certo fator de orgulho na adolescência.

Ter novas coisas para pensar. Ter novos projetos, novas ideias. Eis o caráter do geminiano relatado pela astrologia, capaz de gerar certo fascínio e algum sentimento narcísico. Talvez a ciência embutida na psicologia poderia dizer o mesmo. Desde quando me entendo por gente, e custei a me entender como tal, acumulo lembranças e histórias típicas de quem vive no "mundo da Lua", distraído, disperso, sem coordenação. Vivia tanto em pensamentos distantes que, segundo algum parente, um dia seria capaz de chegar em casa, sem perceber, com uma cadeira amarrada às pernas por algum colega e sem saber a origem. Fui reprovado na escola de inglês porque, em uma prova voei para longe enquanto na tela passava um filme do qual foram extraídas as perguntas da prova.

Mas, acima de tudo, sempre tive vários projetos, aliás muitos projetos e ideias ao mesmo tempo. A lógica do zodíaco ressalta a tendência. Os astrólogos dizem que geminianos adoram literatura e tendem a ler vários livros ao mesmo tempo. "Se conseguirem, irão discorrer sobre eles sempre que surgir alguém disposto a escutar. Podem ter também pendor para a escrita, e talento não lhes falta para isso. Suas idéias quase sempre são originalíssimas. Todavia, falta-lhes um tanto de estabilidade para conseguirem torná-las reais".

O mito do geminiano amplia o entendimento sobre o déficit comportamental, pouco descrito pela ciência. Ao mesmo tempo em que demostra interesse contínuo em aprender coisas novas, um deficiente de atenção tem dificuldades em aprofundar o conhecimento. "Satisfazem-se com a idéia geral de cada assunto. Por isso mesmo podem caracterizar-se por um grande superficialismo", apontam os astrólogos, contribuindo, indiretamente, para delinear o perfil de um portador de déficit de atenção. Na verdade, o geminiano exerce o intelecto como um fim em si próprio. A lógica e a aquisição de informação valem para eles muito mais do que a compreensão e a criação de conhecimento, tarefas muito melhor desempenhadas por um sagitariano. Sua capacidade de expressão os torna muito populares. Mas também podem fazer com que pareçam fofoqueiros e tagarelas.


Comentários

Janaina da Mata disse…
Eu tenho ascendente em gêmeos e me identifiquei muito com o perfil descrito rssss.
A minha sorte é ser do signo de escorpião, que me deixa mais determinada hahahaha.

Postagens mais visitadas deste blog

Como ser um jornalista na internet

Para ser um jornalista online, você precisa conhecer quatro "coisas". Um designer. Um programador de sistemas. Uma empresa capaz de valorizar profissionais capacitados e de dar bons empregos para vocês três. E o mais importante: saber muito sobre comunicação e marketing e um pouco sobre design e tecnologia. Esta deve - ou deveria - ser a resposta padrão para pergunta freqüente feita por jornalistas, novos e antigos, interessados em atuar no novo mercado criado pela internet. Muitos deles imaginam que as portas digitais serão abertas por algum curso sobre as inúmeras tecnologias desenvolvidas para o desenho e gerenciamento de sites. "Tenho muita vontade de atuar em jornalismo na internet, e estou fazendo um curso de Dreamweaver", anunciam os abnegados candidatos a emprego minimamente digno nesta praia de muitas ondas nem sempre boas para surfar. Outros, constrangidos, contam em segredo: eu queria muito trabalhar na internet, mas não sei nada de informática. Menos imp

Quem matou o jornalista

Zélia Leal Adghirni A mídia não reflete a opinião pública. A sociedade pensa uma coisa e a mídia fala outra. E o pior: muitas vezes seleciona e reproduz só aquilo que coincide com os interesses políticos e econômicos do momento. O alerta foi dado pelo professor e pesquisador americano da Universidade do Colorado, Andrew Calabrese, durante o 29º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), que reuniu, na semana passada, mais de três mil professores, alunos e pesquisadores em comunicação na Universidade de Brasília em torno do tema Estado e Comunicação. Calabrese fez graves criticas à mídia americana que, segundo ele, exagerou no patriotismo em detrimento da informação após os atentados de 11 de setembro de 2001. De acordo com o professor, o discurso da Casa Branca e da grande mídia passou a ser quase unificado. A mídia quis fazer uma demonstração de patriotismo e solidariedade e acabou abraçando a decisão do governo de invadir o Iraque sem o respaldo da opinião da opinião

Jornalistas serão substituídos por robôs?

Os jornalistas podem - e vão - ser substituídos por robôs?