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Para qual realidade preparamos nossos filhos?

Em 2025, o mercado de trabalho não será o mesmo 

Carlos Plácido Teixeira
Jornalista – Analista de Tendências

Os atuais candidatos a vagas nas universidades brasileiras podem ter surpresas desagradáveis quando desembarcarem no mercado de trabalho, após os quatro ou mais anos de estudos. A maior parte dos que passam atualmente pelo funil do Enem receberá um diploma em 2025, quando a realidade da oferta e demanda de empregos poderá ser outra. A começar pelo fato de que uma parte das profissões deve passar por um processo de profundas transformações. Ou até mesmo, por um processo de extinção.

As pessoas deveriam perguntar se estão se preparando para as profissões do futuro ou do passado. Na linha do tempo entre o momento atual e os próximos anos, mudanças tecnológicas, comportamentais e gerenciais, entre outras, obrigarão os estudantes a cobrar das instituições de ensino que os currículos sejam adaptados. Com uma agilidade como nunca ocorreu antes. O problema é que as escolas, por tradição, são lentas para entender a dimensão das transformações e se adaptar a elas.

Há, na escolha e condução do processo de preparação para as profissões, vários equívocos, agravados por uma visão de curto prazo da sociedade. Veja, por exemplo, os vários “guias de carreira” disponíveis na internet ou em versão impressa. Todos tendem a olhar para as atividades profissionais com o viés do momento. Em síntese, hoje, a profissão tal está aberta para oportunidades. O que não se diz é que a tal oportunidade de hoje pode não ser a de amanhã. Em cinco anos, tudo pode mudar.

“Hoje, mais do que nunca, o chão sob nossos pés está continuamente mudando – crescendo e se expandindo de forma que poucos foram capazes de antecipar”, atesta o consultor e futurista Daniel Burrus. Ele assinala a influência de variáveis como os avanços exponenciais das tecnologia e o ritmo de mudança da economia global. Mesmo nos Estados Unidos há o risco de continuidade do treinamento da próxima safra de profissionais para posições em processo de obsolescência. “Por falta de visão antecipativa, deixamos de prever com precisão as indústrias que ainda serão inventadas e profissões de amanhã”, avalia.

Algo a se considerar também: os ciclos de demanda e oferta. A área jurídica norte-americana registra um exemplo dos efeitos da visão de futuro, atesta Daniel Burrus. Uma geração atrás, a advocacia era uma das profissões de maior prestígio na sociedade. Com demanda em alta, as escolas de direito foram inundadas por candidatos. Com o tempo, o campo jurídico tornou-se saturado, tornando extremamente difícil a conquista de um bom emprego. Ao longo dos últimos anos, o número geral de solicitantes das escolas de direito caiu significativamente. Entre 2014 e 2015, houve uma queda de 8,5% na procura pelo curso.

Isso é apenas um segmento entre milhares. Parece muito claro que a formação estimula os alunos a agir de forma reativa. Para Daniel Burrus, o cidadão mira, tradicionalmente, um espelho retrovisor, ao invés de focar a atenção para o futuro, com o aprendizado de novas habilidades. De competências simples, como o exercício de liderança sob novas perspectivas à capacidade de se adaptar rapidamente às tecnologias para aplicar criativamente a tecnologia na criação de novos produtos e serviços para as indústrias do futuro.

A tecnologia será parte de qualquer profissão, de qualquer atividade produtiva, seja em uma indústria, na agricultura ou, mesmo, na produção musical. Toda empresa é, neste momento, um negócio de tecnologia. Portanto, assinala Daniel Burrus, os educadores não podem mais ignorar o componente de tecnologia – ou, pior, deixar de ensinar as crianças corretamente, supondo que eles já sabem como operar dispositivos móveis e computadores e navegar de forma adequada a internet.

O fato incontestável é que a tecnologia muda a maneira como vivemos, trabalhamos e atuamos socialmente. A única maneira para se manter à frente do jogo é incorporando a mentalidade antecipatória, olhando para as tendências que estão moldando o futuro, especialmente no que diz respeito à educação.

Ainda como exemplo, a universidade tradicional ensina contabilidade sem compreender como a atividade está evoluindo rapidamente. O mesmo ocorre no ensino de medicina. O consultor aposta, com convicção, que a maioria das escolas médicas desconhece os impactos futuros das tecnologias sobre os hospitais e salas de cirurgia. A inteligência artificial, que dará saltos enormes nos próximos anos, criará uma nova abordagem para o diagnóstico de pacientes. Que, por sinal, estarão mais informados e “portando” mais informações com seus aparelhos conectados na internet das coisas.

Sem uma abordagem mais antecipatória, pró-ativa para a educação, os estudantes, de uma forma geral, inclusive as crianças, correm o risco de ficar completamente despreparadas para a paisagem profissional do amanhã. Uma série de novas indústrias de base tecnológica vai começar a ocupar espaços no mercado. Será um desafio para educadores. E também para toda a sociedade, incluindo os pais.

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