Carlos Plácido Teixeira*
Jornalista, de texto primoroso, sério, competente, com formação humanista e senso crítico, Henrique de Souza está irritado hoje. Bem que a família e os médicos tentaram, a todo custo, evitar acontecimentos capazes de gerar contrariedades. O computador desligado durante todo dia, a TV estrategicamente estragada e o rádio em emissoras que tocam exclusivamente música faziam parte do tratamento para enfrentar os problemas decorrentes da depressão.
Mas não teve jeito. Bastou uma pequena distração e Henrique acessou um portal de notícias na internet. E estava lá a manchete: “ANJ e Abert querem que candidatos assumam compromisso com a liberdade de imprensa”. Foi o suficiente para Henrique quase infartar. “Que cara de pau”, esbravejou, nervoso como ele só. Segundo a notícia, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) vão cobrar dos candidatos à Presidência da República compromisso com a liberdade de imprensa.
Antes da eleição, as entidades querem barrar os presidenciáveis na porta de algum comício para que eles assinem um documento em "defesa do livre exercício do Jornalismo". Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) serão convidados pelas entidades dos proprietários das maiores empresas de jornalismo do País a assinar a Declaração de Chapultepec. O documento, apresentado no México em 1994, defende a ideia de que "nenhuma lei ou medida do governo pode limitar a liberdade de expressão ou de imprensa". “Vamos convidar os presidenciáveis a participar do 8º Congresso Brasileiro de Jornais, o maior evento do setor, para que eles se posicionem sobre a importância dos meios de comunicação na sociedade brasileira", afirmou o diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira.
Henrique tem razão de ficar irritado. “Liberdade de imprensa é o ...”, berrou ao ler da nota publicada no Portal Imprensa. Afinal, lembra o jornalista, as mesmas entidades apoiaram a implantação da ditadura militar. ANJ e Abert contribuíram decisivamente para colocar Fernando Color de Mello no governo. As empresas jornalísticas foram porta-voz e o alicerce da comunicação e dos interesses do governo de Fernando Henrique Cardoso, calando as inúmeras denúncias que não interessavam aos donos do poder. As entidades que impuseram suas vontades no Congresso, no Supremo Tribunal Federal, agora defendem a liberdade de imprensa.
Diante das entidades representativas de empresas sem a menor tradição democrática, Henrique espeta a hipocrisia. “As raposas, além de tomar conta do galinheiro, ainda querem colocar o galo trabalhando para elas”. E ele nem imagina que as mesmas entidades divulgaram a intenção, em mais um exemplo de hipocrisia, de lançar um órgão de autoregulação dos jornais, no modelo que existe no reino da publicidade, aquele setor que não vê qualquer problema ético em fazer campanhas para instituições financeiras que roubam dinheiro de velhinhos ou sobre produtos que fazem mal para a saúde.
O jornalista considera-se um retrato do desapreço dos jornais pela liberdade de imprensa. Honesto, de caráter, idealista foi demitido quando não aceitou ser censurado pelo jornal onde teve seu último emprego em imprensa . Recusou-se a derrubar uma matéria com denúncias graves contra políticos e empresários e dançou. O mesmo jornal que censurou o trabalho de Henrique é um dos que querem cobrar, hoje, dos candidatos a presidente, a declaração de que não atentarão contra a liberdade de imprensa.
* Jornalista
Jornalista, de texto primoroso, sério, competente, com formação humanista e senso crítico, Henrique de Souza está irritado hoje. Bem que a família e os médicos tentaram, a todo custo, evitar acontecimentos capazes de gerar contrariedades. O computador desligado durante todo dia, a TV estrategicamente estragada e o rádio em emissoras que tocam exclusivamente música faziam parte do tratamento para enfrentar os problemas decorrentes da depressão.
Mas não teve jeito. Bastou uma pequena distração e Henrique acessou um portal de notícias na internet. E estava lá a manchete: “ANJ e Abert querem que candidatos assumam compromisso com a liberdade de imprensa”. Foi o suficiente para Henrique quase infartar. “Que cara de pau”, esbravejou, nervoso como ele só. Segundo a notícia, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) vão cobrar dos candidatos à Presidência da República compromisso com a liberdade de imprensa.
Antes da eleição, as entidades querem barrar os presidenciáveis na porta de algum comício para que eles assinem um documento em "defesa do livre exercício do Jornalismo". Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) serão convidados pelas entidades dos proprietários das maiores empresas de jornalismo do País a assinar a Declaração de Chapultepec. O documento, apresentado no México em 1994, defende a ideia de que "nenhuma lei ou medida do governo pode limitar a liberdade de expressão ou de imprensa". “Vamos convidar os presidenciáveis a participar do 8º Congresso Brasileiro de Jornais, o maior evento do setor, para que eles se posicionem sobre a importância dos meios de comunicação na sociedade brasileira", afirmou o diretor-executivo da ANJ, Ricardo Pedreira.
Henrique tem razão de ficar irritado. “Liberdade de imprensa é o ...”, berrou ao ler da nota publicada no Portal Imprensa. Afinal, lembra o jornalista, as mesmas entidades apoiaram a implantação da ditadura militar. ANJ e Abert contribuíram decisivamente para colocar Fernando Color de Mello no governo. As empresas jornalísticas foram porta-voz e o alicerce da comunicação e dos interesses do governo de Fernando Henrique Cardoso, calando as inúmeras denúncias que não interessavam aos donos do poder. As entidades que impuseram suas vontades no Congresso, no Supremo Tribunal Federal, agora defendem a liberdade de imprensa.
Diante das entidades representativas de empresas sem a menor tradição democrática, Henrique espeta a hipocrisia. “As raposas, além de tomar conta do galinheiro, ainda querem colocar o galo trabalhando para elas”. E ele nem imagina que as mesmas entidades divulgaram a intenção, em mais um exemplo de hipocrisia, de lançar um órgão de autoregulação dos jornais, no modelo que existe no reino da publicidade, aquele setor que não vê qualquer problema ético em fazer campanhas para instituições financeiras que roubam dinheiro de velhinhos ou sobre produtos que fazem mal para a saúde.
O jornalista considera-se um retrato do desapreço dos jornais pela liberdade de imprensa. Honesto, de caráter, idealista foi demitido quando não aceitou ser censurado pelo jornal onde teve seu último emprego em imprensa . Recusou-se a derrubar uma matéria com denúncias graves contra políticos e empresários e dançou. O mesmo jornal que censurou o trabalho de Henrique é um dos que querem cobrar, hoje, dos candidatos a presidente, a declaração de que não atentarão contra a liberdade de imprensa.
* Jornalista
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