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Coincidências são para toda a vida

Até agora estou impressionado.
Hoje, 23 de abril, sexta-feira. Olho no meu celular e vejo que minha sobrinha, Carolina, nova empreendedora de um velho negócio comandado durante anos por minha mãe, tentou falar comigo. Resolvo ligar para ela. E brinco, de uma forma como jamais fizera antes, ao primeiro alô dela: "não adianta pedir dinheiro". Falo com tom duro, incisivo.
Do outro lado, depois do alô e da minha fala, o silêncio. Eu mesmo quebro a barreira criada. Pergunto pelo susto: "e aí, não entendeu nada? Rio da situação.
Ela não me ouve. Apenas pergunta: como é que você sabia?
Sabia o que?, questiono, na minha vez de perguntar.
Ela diz: eu estou acabando de escrever um e-mail, que enviarei para tios, primos, amigos e outros parentes. É sobre o casamento da Flavinha, na Espanha. Como será amanhã, estava escrevendo o e-mail. A minha sugestão é: como não teremos condições de enviar presentes, que enviemos dinheiro.

Coincidências me intrigam.
Certa vez, umas décadas atrás, como todo mundo que erra, eu estava fazendo jornalismo. Tirei férias pela primeira vez, depois de anos penando em trabalhos de poucos resultados financeiros. Como jamais soube ganhar dinheiro e os aviões de carreira eram coisa para poucos, enfrentei umas 36 horas de ônibus de Belo Horizonte até Maceió, nas Alagoas. Fiquei em casa alheia, morando de favor, como diria meu amigo Ricardo. Sem grana, comia o pão com banana que o diabo não amassou e tomava água na praia, para enganar a fome. De lá, fui para Recife, de carona. Depois de um tempo fazendo os gestos tradicionais com as mãos, finalmente uma kombi parou. Tenho mais medo de kombi do que de montanha russa, mas fui assim mesmo. Afinal, a carona dada não se olha o carro. Lá dentro, um simpático casal: um alemão e uma italiana. Viajantes de carona, circulando pelo mundo.
Depois de um tempo, retorno para Belo Horizonte e encontro minha prima Carmem. Conversa vem, conversa vai, constatamos que viajamos mais ou menos na mesma época para o Nordeste. Na realidade, ela esteve em Salvador, na Bahia. Falo de minha viagem de carona. Diante disso, ela pergunta para mim, meio por perguntar:
Por um acaso você não conheceu um casal de estrangeiro nesta viagem? Isso mesmo, um alemão e uma italiana.

Outra história. Eu trabalhava no finado jornal Gazeta Mercantil, em Belo Horizonte. Pensamos, eu e o editor, em produzir uma pauta sobre gente que tinha como hobby o software Flight Simulator, simulador de vôo da Microsoft. Descobri na internet o nome de um destes tarados pelo brinquedo eletrönico. José Qualquer Coisa -- Qualquer Coisa um sobrenome fictício, o que parece óbvio, porém raro. Procura aqui, procura lá, não conseguimos o telefone do José Qualquer Coisa. Poxa, que chato. Como fazer?
Estávamos eu e o editor pensativos quando toca o telefone. Aliás, o fax - que ainda existia. Era um press release, como alguns gostavam de dizer então. Ih, mais um release. Vamos lá ver de quem é. O assunto não interessou. Mas a assinatura sim: era da Patrícia. Patrícia Qualquer Coisa. Parente do José, é claro.

Outra, também na Gazeta Mercantil.
Sexta-feira, marco uma entrevista com um urbanista sobre questões do futuro de Belo Horizonte. Para a próxima segunda-feira. Foi difícil encontrar o sujeito, especializadíssimo, cheio de jeitos e poréns, é claro. Finalmente, com a entrevista marcada, posso ir para casa. Entro no elevador de meu prédio, outro sujeito também entra. Conversamos rapidamente sobre problemas de Belo Horizonte. Eu me apresento, jornalista, trabalho na Gazeta Mercantil. Ele diz: ó, que curioso, semana que vem vou dar uma entrevista para a Gazeta Mercantil. Era ele mesmo.

Carlos Plácido Teixeira,
Enquanto o efeito da Vodka não vem (ou veio e não percebi ainda)

Comentários

Muito bom! kkkkk
Inacreditável também a quantidade de casos que já aconteceram com você.

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