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Os leitores mudam, mas os jornais não querem ver

Reunião entre os principais donos de jornais impressos do planeta, o encontro anual da Associação Mundial de Jornais (WAN, na sigla em inglês), entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro, em Hyderabad, na Índia, demonstra que os empresários continuam perdidos sobre os rumos do negócio deles. Na sessão de encerramento do evento, o presidente da entidade, Gavin O'Reilly voltou a reclamar do Google, dono do principal sistema de busca do planeta. No alvo central estão, mais exatamente, os agregadores de notícias, como o Google News, sistemas que buscam e apresentam conteúdos jornalísticos apresentados na internet.

Para a WAN, falta cooperação do Google na identificação de soluções para a questão de direitos autorais no uso de notícias. “Temos tentado sentar para negociar, mas o Google não tem colaborado. Enquanto isso, continua com sua cleptomania”, disse na quinta-feira, 3, Gavin O’Reilly, presidente da WAN, na sessão de encerramento do 62º congresso mundial do setor. O’Reilly se dirigia a David Drummond, vice-presidente de assuntos jurídicos do Google, que participou do encerramento do encontro.

Os ataques à maior empresa da internet evidenciam o desnorteamento do segmento impresso. Os empresários reconhecem a necessidade de criação de um novo modelo de negócios, para compensar as inevitáveis perdas de receitas publicitárias. A WAN projeta, segundo estudos de tendências apresentados durante o evento, que em nenhum momento no futuro as receitas serão recuperadas, tornando inevitável a busca por alternativas, incluindo, entre elas, a proposta de cobrança pelo acesso às informações.

Conservadorismo

Ao caçar briga com o Google, a Associação Mundial dos Jornais foca o alvo errado. Importante, de fato, assim como a questão do direito autoral. A leitura de relatórios da entidade, disponíveis na própria internet e que estariam inacessíveis se a rede não existisse, não aborda mudanças de hábitos da sociedade, muitos deles provocados pelo alienamento político e cultural estimulado pelos próprios meios de comunicação de massa.

Os estudos não abordam, por exemplo, novos hábitos familiares da classe média ou da população de alta renda. Ou o impacto da transferência da moradia individual: o morador de prédio raramente recebe o jornal de sua assinatura ainda pela manhã. Também não são consideradas, nos estudos, como fenômeno mundial, as variáveis relacionadas à queda da qualidade editorial do segmento, que atua, com frequência, como representante de interesses particulares e que nega a sua função social.

Tentando tapar o sol com peneira, como sempre, a WAN destaca que, no plano mundial, as vendas de jornais continuam crescendo, o que denotaria a manutenção da sua importância. Na prática, o crescimento é registrado em mercados periféricos, como no próprio Brasil. A expansão é resultado da maior venda de publicações "populares".

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