Algumas considerações sobre os rumos da mídia, a partir dos debates ocorridos na Câmara Municipal na segunda-feira.
Como o seminário foi longo e rico em conteúdo, vou me ater a dois pontos.
O ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, fez um belo relato sobre o que deverá ser o papel dos jornais, se quiserem ter relevância no debate político. Deverão abordar temas relevantes, deixar de lado o jornalismo ligeiro de futricas etc.
Em duas intervenções, o representante da CUT trouxe dois enfoques bastante interessantes.
O primeiro, lembrando que, até alguns anos atrás, nas assembleias da categoria, os colegas traziam jornais debaixo do braço, especialmente a Folha, e exibiam com orgulho. Hoje em dia, abominam os jornais e, nas discussões, mencionam cada vez mais os blogs.
Aliás, ao final várias pessoas das mais variadas extrações sociais vieram conversar, repetindo tiradas do Blog (”priapismo midiático” e outras), e olha que o Blog não tem a capacidade do PHA de criar bordões.
O segundo, mostrando a estrutura de informação que a CUT está montando, com a revista Revista do Brasil, web-radios, web-TVs.
Quando falou de sua decepção com o quadro atual, o interrompi. Suas duas colocações mostravam que o quadro atual nada mais tinha a ver com o quadro passado. O futuro já chegou.
De fato, em pouquíssimo tempo a Internet se firmou e já é possível desenhar o cenário que irá se consolidar daqui para frente. No meio do caos criativo da Net, haverá a volta dos temas relevantes – mas não através da mídia convencional, como sonha o Carlos Eduardo.
Numa ponta, haverá a disseminação cada vez maior de setores gerando suas próprias notícias – como a CUT, a FIESP, a Abimaq, ONGs, empresas, sites regionais etc. Na outra, haverá blogs ou sites organizadores avalizando as notícias e dando visibilidade aquelas mais relevantes. Serão os “hubs” da Internet.
É um modelo que dá nó na cabeça dos jornalões, acostumados ao controle absoluto do processo de geração de notícias.
O próximo passo será a adesão cada vez maior de novos blogs a essa estrutura caótica e informal da Internet. Cidades, associações de classe, empresas que quiserem visibilidade, terão que gerar indicadores e notícias confiáveis.
É indescritível a riqueza desse modelo. Informações brotando a cada dia, novas fontes sendo criadas, algumas se consolidando como referências em suas áreas, outras desaparecendo na poeira.
Dentro de algum tempo, quem quiser informações sobre agricultura, vai beber na fonte dos sites de associações, empresas e municípios agrícolas; sobre Amazônia, em blogs e sites de ONGs e institutos de pesquisa da região. Será o fim da era em que dados significativos sobre crises setoriais eram sepultados pelos jornalões com um mero “isso é choradeira”; ou dados do governo sobre a ampliação de crédito possam ser divulgados sem serem checados.
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