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Coisas que odeio - I


Como somos resultados de processos químicos e físicos, reagimos a coisas que, para a salada de prótons, elétrons e íons dos outros, podem parecer irrelevantes. Para evitar fusões nucleares desnessárias, eu recomendo, por exemplo, que não me convidem para dividir a mesma mesa com a palavra acontece.

Pode ser um comportamento ultrapassado, anacrônico -- que é coisa de velho -- mas desenvolvi uma profunda antipatia pela palavra, utilizada por nove entre cada profissionais de imprensa para relatar que algum evento será realizado. O tal do "acontece hoje aqui ou ali" é uma praga incontrolável.

Tomei antipatia por um motivo banal. Não que seja errado usar a palavra. O Manual de Redação do Estadão inclusive aceita e define. Mas como sou ultrapassadamente de esquerda, tenho antipatia dos colunistas sociais, elementos que servem para bajular e se deslumbrar com as coisas da direita. E são estes colunistas que deram força à aplicação da palavra. "Acontece hoje na mansão do proctologista Bigfinger o encontro do melhor (sic) de nossa sociedade". "Belo Horizonte se agita com o aniversário de Rosinha, que acontece hoje no Automóvel Club e promete parar a cidade".

Pois é. Acontece que os colunistas fizeram escola e o jornalismo, cada vez mais superficial na abordagem das informações, adotou o padrão.


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